PLAYLIST

sexta-feira, 5 de julho de 2013

ACROBATA DA DOR de Cruz e Souza

Odete Soares Rangel

Gargalha, ri, num riso de tormenta, 
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche[1], salta clown[2], varado
Pelo estertor dessa agonia lenta...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso[3] e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Vocabulário   

[1] Gavroche - garoto.
[2] Clown – palhaço, bobo.
[3] Estuoso – ardente, febril. 

Pode-se dizer que acrobata é um dançarino sob cordas, um equilibrista.  Um equilibrista! Assim também é o palhaço, o  qual necessita equilibrar seus sentires, suprimir suas dores e sofrimentos em prol de trazer  alegria e diversão para a plateia.  O homem ou mulher transveste-de de palhaço interna e externamente.  E nesse momento ele é apenas um ator ou atriz, nasce e morre no palco, no início e no fim do ato. Ironicamente ou não, o ser humano se despoja dos seus sentimentos e precisa agir como se sua vida fosse um mar de rosas. Para ele(a) é como se a dor não existisse, como se o sofrimento fosse um fantasma que assombra, mas que é produto da sua fantasia. Então gargalha, ri, faz o bis! E alegra os outros.

No link http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/3461824 você encontra uma belíssima análise desse soneto. Click no link e leia-a, vale a pena!  

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