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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Papiro Derveni

Odete Soares Rangel

 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papiro_de_Derveni

Falar do Papiro de Derveni (1962) é como flutuar nas nuvens. Na literatura existente, há algumas informações divergentes no que se refere a linha do tempo e a sua  recuperação. Enquanto alguns atribuem-lhe a data do século V a.C., outros fazem alusão a  inferências que levam-nos a acreditar que ele seja bem mais antigo, possivelmente da metade do século IV a.C. Também as partes recuperadas, enquanto alguns autores se referem a 200 fragmentos, outros estimam que tenham sido 266.

"O Papiro de Derveni, datado do século V a.C., é um papiro da Grécia Antiga. O documento é um tratado filosófico em um poema órfico e se refere ao gênese, o conhecimento de Deus, o misticismo e à cerimônias religiosas que levam ao monoteísmo. É considerado o manuscrito mais antigo da Europa." (Wikipédia)

Ainda segundo a wikipédia, o texto é o comentário de um poema hexâmetro atribuído a Orfeu que inicia com as palavras “Feche as portas, tu, iniciante”, uma famosa advertência ao segredo recontado por Platão.  A teogonia descrita no poema tinha a Noite dando à luz ao Céu (Urano), que se tornou o primeiro rei. Cronos (o tempo) vem em seguida e toma o reinado de Urano, mas é sucedido por Zeus. Este tendo ouvido oráculos de seu pai, vai até o santuário da Noite, que conta a ele “todos os oráculos, os quais em seguida ele colocaria em efeito”. Ao ouvi-los, Zeus engoliu o falo (do rei Urano), que primeiro tinha ejaculado o brilho do céu.

Nos campos da filosofia e da religião grega, uma das mais importantes descobertas dos tempos modernos foi o Papiro de Derveni (1962). Ele foi encontrado em um sítio arqueológico em Derveni, na Macedônia, ao nordeste da Grécia, próximo de Tessalônicano túmulo de um homem nobre, em uma necrópole que fazia parte de um rico cemitério que pertencia à antiga cidade de Lete. Nesse, existia um grupo de seis tumbas, o papiro encontrava-se no lado externo da tumba A,  entre os destroços de uma pira funerária.

Apesar do clima da Grécia não ser propício à preservação de papiros, as chamas carbonizaram e preservaram o Derveni que subsistiu as chamas por mais de 2300 anos. Embora chamuscado, ele permaneceu enterrado no alto da tumba do nobre até ser encontrado por operários durante os trabalhos de construção da Estrada Nacional de Thessaloniki para Kavala quando, então, eles desenterraram a antiga necrópole onde estava o nobre macedônio.

Arqueólogos retiraram-no de sua antiga pira. Até hoje,  é o mais antigo Papiro encontrado na Europa, o que leva pessoas como jornalistas a considerarem-no "O mais velho livro da Europa". É o mais antigo Papiro grego e literário conhecido. O texto consiste em duas partes: Uma, escatológica, que fala de sacrifícios aos mortos, de punições para quem age erroneamente; a outra cita trechos de rapsódias órficas acompanhados de comentários  do autor. Alguns autores consideram-no o mais importante texto do século quinto, desde a Renascença.

Apesar de parcialmente carbonizado, o papiro se preservou de putrefação, sendo possível a sua reconstituição. Anton Fackelman recuperarou 200 fragmentos do Papiro que resultaram em 26 colunas, cada uma com cerca de 15 linhas. Mas há quem se refira a 266 pedaços recuperados, com tamanhos variando entre 2-3 centímetros a alguns milímetros, os quais permitiram a reconstrução do papiro, cujo texto fora distribuído em 26 colunas.

A olho nu, o texto era praticamente ilegível, mas através de infravermelho com vibrações com um comprimento de 1000 nm (nanometer, an SI unit of length, equal to 10−9 m (a billionth of a meter) foi possível decifrá-lo.

O papiro é mantido no Museu Arqueológico de Thessaloniki.

2 comentários:

Maria Teresa Azevedo disse...

Há pormenores deste texto a rever: 1) o papiro é do séc. IV a.C. (data do túmulo, c. 330 a.C.)e contém um comentário, melhor, uma exegese alegórica, a um poema atribuído a Orfeu, cuja data de circulação poderia remontar aos finais do sec. VI a.C.; 2) a frase relativa ao início dos cerimoniais (órficos) não é para os iniciantes e sim para os profanos: "ponham portas nos ouvidos", isto é, "tapem os ouvidos" (porque é sacrilégio os profanos acederem ao que se vai ouvir). Platão reproduz a frase, num contexto paródico, no Banquete, 218b; 3) o comentário é importante para Platão, nomeadamente para compreender a manipulação das etimologias, no Crátilo, mas é errado dizer-se que a frase anterior se refira a algum "segredo recontado por Platão" (é posta nos lábios por uma personagem, Alcibíades).

Odete Rangel disse...

Boa noite Maria Teresa Azevedo,

Obrigada pelo seu elegante comentário! E também pela sua importante contribuição, dividindo com os internautas os seus conhecimentos. Fico muito feliz quando um leitor faz comentários como o seu, o qual agrega muito para a fidelidade dos fatos.

Grande abraço para você! E para todos!