PLAYLIST

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O EU de cada um em Florbela Espanca

Odete Soares Rangel

Hoje acordei pensando em Florbela Espanca e na sábia forma de expressar-se em seus poemas. Quando os lemos, nos identificamos com seus dizeres, é como se tivéssemos participado da construção do texto e falássemos de nós mesmos. Embora, por vezes melancólicos, muito dizem sobre cada um que os lêem com os olhos da alma. Você se conhece intimamente, você admite suas fraquezas, você sabe quem você é e o que quer ser? Eu não tenho essa certeza, tenho muitas dúvidas acerca de quem sou de fato. Eu escrevo sobre o insight que me sussurra aos ouvidos, acredito na espontaneidade. Mario de Andrade, certa vez, disse " Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi". Divirta-se, é para você pensar!

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo...um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem sou? Sei lá! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

(Florbela Espanca)

Nenhum comentário: