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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A poderosa e a submissa

Odete Soares Rangel

Andei refletindo sobre o papel da patroa e o da empregada, a toda poderosa e a submissa. A patroa, sempre impecável e implacável, num tom de superioridade, dá às ordens à empregada. Ela busca uma pessoa que execute as tarefas ordenadas, que pense, saiba se comunicar e tenha visão, porém não deixe de cumprir à risca suas determinações. Seu sentimento de posse prevalece, ela está na “sua casa”, paga pelos serviços prestados que devem ser executados segundo a sua vontade.

Exigente, quer tudo perfeito, mas está sempre agregando uma nova atividade na função da empregada. Esta tem que chegar cedo e sair tarde. Tem a obrigação de lavar e passar roupa, limpar e arrumar a casa, fazer as compras, passear com o cachorro, e até mesmo realizar outras tarefas não intrínsecas à sua função. A patroa orgulha-se ao dizer: - exijo qualidade e produtividade nos serviços, pois pago muito bem, ela tem que fazer o melhor.

Por empregar pessoa desconhecida, a patroa sempre suspeita da empregada. Não raro, ela chega de mansinho para ver como está se comportando a nova secretária. Qualquer anormalidade, a coitada da empregada é sempre a culpada. Se a patroa não acha uma roupa, sapato, jóia ou mantimento que julgava estar no armário, ou não encontra algo porque alguém quebrou ou perdeu, logo a empregada é responsabilizada. A patroa sai esbravejando, esta inútil, além de relaxada está me roubando, vou mandá-la embora. A substitui por outra, os fatos se repetem, as substituições também.

Mesquinha em termos financeiros, a patroa paga o valor contratado, nem um centavo a mais. Ela generaliza e diz: - são todas iguais, não estão acostumadas com conforto, nem conviver com gente de bem. Ela deve agradecer a Deus por estar trabalhando na minha casa. Dou-lhe roupas, come e bebe do bom e do melhor, etc. O que as pessoas que a ouvem não sabem, é que as roupas são àquelas fora de moda e mais do que usadas, a comida; aqueles restos que ninguém comeria jamais se pudesse escolher.

Felizmente, existem patroas com pensamento e comportamento diferentes. Para estas, as empregadas devem ser tratadas como gente, valorizadas financeiramente ou por estímulos através de elogios, lembradas em datas importantes e estimuladas ao aperfeiçoamento e ao crescimento pessoal.

A patroa do futuro exigirá uma empregada perfeita e confiável; um ser social e pensante, que saiba escrever, atender ao telefone educadamente, operar o computador, dirigir, mas que não traga seus problemas pessoais para o trabalho. Neste último particular concordo com a patroa, este é um fato comum nos dias de hoje. Enfim, a empregada contemporânea tem que ter cultura, visão, discernimento e, de preferência, que enxergue e atue em sua função de forma holística. Em contrapartida, a patroa tem de tratá-la como ser humano e não como um ser coisificado e remunerá-la decentemente.  Assim, a harmonia reinará entre ambas, a poderosa será mais humana e a submissa mais ética e profissional.

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